Fonte: http://www.lnh.ufsc.br/PDF/cancer.pdf
Autores:Enilze M. S. F. Ribeiro e
Newton Freire-Maia
Departamento de Genética,
Universidade Federal
do Paraná
O que todas essas doenças têm em
comum é principalmente a proliferação desordenada
das células e a capacidade que algumas têm de
se desprender do bloco inicial e migrar até outro
local, onde se implantam e geram novos focos (ou
metástases).
As células normais só se reproduzem quando são
instruídas para isso, e seguem uma seqüência coordenada
de eventos chamada de ‘ciclo celular’. As células cancerosas,
ao contrário, passam aseguir um programa próprio e
desordenado de reprodução.
Dois grupos principais de genes, que constituem uma
pequena fração do nosso genoma, estão entre os
principais responsáveis pelo desencadeamento do
processo canceroso. Em sua forma normal, eles controlam
o ciclo celular: os ‘protooncogenes’ estimulam
a divisão da célula, enquanto os ‘genes supressores
de tumor’ inibem o processo. Quando sofrem
mutação, os ‘protooncogenes’ tornam-se
oncogenes, levando a célula a se multiplicar em
excesso. Ao contrário, os ‘genes supressores de tumor’,
que contêm instruções para a produção de
proteínas que evitam o crescimento celular inapropriado,
favorecem a instalação do câncer quando
são inativados por mutações.
Para se tornarem malignas, as células, além da
proliferação acelerada, precisam ignorar os sinais
inibitórios normalmente emitidos pelas proteínas
produzidas pelos genes supressores de tumor. Na
verdade, esses sinais estão inativos ou ausentes em
muitos tipos de células cancerosas, deixando-as sem
o controle de quando devem parar de se dividir ou,
no caso de lesões do DNA, sem o tempo necessário,
durante o ciclo celular, para que ocorra o reparo
dessas lesões – isso acontece, por exemplo, nas
mutações do gene TP53, que impedem o prolongamento
do ciclo celular (o que garante tempo hábil
para o reparo).
Para muitos tumores, o gene responsável já é
conhecido. Com a recente conclusão do seqüenciamento
de quase todo o DNA humano, pelo Projeto
Genoma, espera-se que a lista de genes de
suscetibilidade ao câncer aumente rapidamente.
Outras etapas – a identificação dos produtos desses
genes, da função de cada um e das interações entre
eles – ampliarão as possibilidades tanto da realização
de análises que identifiquem os indivíduos de
alto risco quanto do desenvolvimento de novas estratégias
de tratamento. Conhecendo as características
moleculares de cada tumor, os médicos poderão
direcionar o tratamento, restaurando a normalidade
ou eliminando apenas as células alteradas,
sem prejuízo para as normais, como ainda ocorre
nas terapias convencionais.
Uma vez que o câncer é uma doença genética,
decorrente de mutações herdadas pelo indivíduo
ou ocorridas nele, e que a maioria delas é
inevitável e cumulativa, vê-se que é impossível
eliminá-lo. Podemos apenas identificá-lo mais
precocemente, combatê-lo com maior vigor,
extirpá-lo ou curá-lo, mas a possibilidade de sua
volta está inscrita no próprio mecanismo da vida
e de sua evolução.
Três tipos de displasias
Os distúrbios do desenvolvimento de tecidos são
chamados de displasias. Em relação à malignidade,
as displasias podem ser subdivididas em três tipos:
Displasias não-malignas. São a maioria. As
displasias ectodérmicas, que afetam os pêlos, a dentição,
as unhas, a sudação etc., são muito conhecidas
(o ectoderma é a camada mais externa de células no
embrião, e dá origem à epiderme, às mucosas e ao
sistema nervoso). Atualmente, são conhecidas 192
dessas displasias, como constatou o bioquímico Toni
Lisboa-Costa, em pesquisa de pós-graduação na Universidade
Federal do Paraná. Essas displasias são, em
geral, hereditárias. Outros exemplos são os calos,
manchas e verrugas, displasias comuns e por isso
bem conhecidas.
Displasias pré-malignas. Os pólipos (tumores
das mucosas) do intestino grosso, que ocorrem na polipose
hereditária, são exemplos. Tais pólipos são precursores
de câncer, e sua extirpação evitará o aparecimento
da doença. A lesão do colo do útero produzida
pelo papiloma-vírus humano (HPV) é outro exemplo.
Displasias malignas ou cânceres. Nesse caso, a
célula inicial sofre uma mutação específica que,
somada ao efeito de outras mutações, faz com que
perca o ritmo normal de multiplicação, passando a se
dividir mais rápido do que o normal. Forma-se, então,
um tumor, e as células deste, além da multiplicação
acelerada, apresentam graves defeitos em uma etapa
essencial da divisão celular: a duplicação dos
cromossomos e sua separação em números e conteúdos
iguais para as células-filhas. As células integrantes
do tumor, portanto, são anômalas quanto à sua
constituição cromossômica – condição chamada de
‘instabilidade cromossômica’
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